Determinação e frutos marcam <br>quinzena de luta na indústria
REIVINDICAÇÃO Com três concentrações, unidas em desfile, termina amanhã a «quinzena de acção e luta» na indústria e ambiente, por melhores salários, pela contratação colectiva e os direitos.
As convenções colectivas têm de ser negociadas e cumpridas
Esta série de acções – incluindo greves e iniciativas de protesto junto de várias empresas – iniciou-se a 23 de Fevereiro e foi promovida pela Fiequimetal/CGTP-IN e os sindicatos filiados.
A encerrar a «quinzena», realiza-se esta sexta-feira, dia 10, uma jornada de âmbito nacional, a partir das 14h30, em Lisboa. Uma primeira concentração tem lugar frente à sede da Associação Portuguesa dos Fabricantes de Tintas e Vernizes, uma das associações patronais que mantêm sob um prolongado boicote o contrato colectivo de trabalho das indústrias químicas, como se explica numa nota publicada pela federação.
As negociações de revisão do contrato foram interrompidas pelos patrões, em 2006, e a Fiequimetal insiste que devem ser retomadas, dando toda a prioridade à revisão salarial.
Esta concentração decorre nas proximidades da Imprensa Nacional Casa da Moeda, cujos trabalhadores voltaram a fazer greve anteontem, dia 7, durante as duas últimas horas do turno da manhã e as primeiras duas horas do turno da tarde, reunindo-se frente à sede da empresa. Esta foi mais uma etapa da luta por aumentos salariais (que não ocorrem desde há sete anos), pelo cumprimento dos direitos consagrados no Acordo de Empresa, que a empresa quer destruir, e contra promoções discriminatórias.
Navalha Garcia, dirigente do SITE Centro-Sul e Regiões Autónomas, relatou à agência Lusa que a administração desconvocou a reunião negocial marcada para essa tarde, porque pretende abordar com o secretário de Estado do Orçamento a criação de um regime de excepção que permita negociar a revisão da tabela salarial na INCM. Rompido o protocolo que previa reuniões quinzenais, o dirigente do sindicato e da Fiequimetal exigiu a urgente marcação da próxima sessão negocial.
A luta dos trabalhadores da INCM deverá marcar presença também na jornada de amanhã, que vai reunir dirigentes e delegados sindicais e outros trabalhadores das indústrias metalúrgicas, químicas, eléctricas, farmacêutica, celulose, papel, gráfica, imprensa, energia e minas – os sectores abrangidos pelos sindicatos da Fiequimetal.
Uma segunda concentração vai ter lugar frente à sede da associação patronal das empresas fabricantes de material eléctrico e electrónico (ANIMEE), igualmente em protesto contra o boicote da contratação colectiva e pela exigência de aumentos salariais. Do Arco do Cego para a Avenida Guerra Junqueiro, os trabalhadores deslocam-se em manifestação.
O desfile prosseguirá até à Praça de Londres, com o propósito de exigir do ministro do Trabalho a revogação da norma legal que abriu portas à caducidade das convenções, entre outras alterações gravosas da legislação laboral.
Para se integrarem nesta jornada, estão a mobilizar-se também os trabalhadores da Thyssenkrupp Elevadores. Mesmo depois da greve de 24 de Fevereiro, a administração continuou sem responder às reivindicações, com destaque para aumentos salariais de 37 euros, sem discriminações. Para hoje, está convocada nova greve de 24 horas e uma concentração, de manhã, à porta dos serviços centrais da empresa, em Massamá (Sintra).
Mesmo com chuva
Na passada sexta-feira, dia 3, os trabalhadores (na maioria, mulheres e jovens) da Tesco, em Ribeirão (Vila Nova de Famalicão) fizeram greve e, mesmo debaixo de intensa chuva, concentraram-se de manhã à porta da empresa. Com o apoio de dirigentes do SITE Norte e de um carro de som, as trabalhadoras voltaram a cantar «Grândola Vila Morena». Nova concentração decorreu de tarde, com a participação de Arménio Carlos, Secretário-geral da CGTP-IN.
A empresa deu resposta à exigência de aumentos salariais, depois da primeira greve, a 24 de Fevereiro, mas de forma discriminatória, o que aumentou o descontentamento, como foi visível na maior adesão à greve.
No mesmo dia, em Castelo Branco, na entrada da Delphi, o SITE CSRA realizou uma acção de protesto pela redução do horário de trabalho e, em concreto, na defesa do intervalo da refeição como tempo efectivo de trabalho. No caderno reivindicativo consta ainda o fim da autorização prévia para sair das instalações.
Na refinaria de Sines da Petrogal, igualmente na manhã de dia 3 e também com chuva e frio, os trabalhadores que realizam a manutenção, contratados através de um consórcio dirigido pela EFATM/ATM, concentraram-se junto da portaria e foram ao edifício da administração. Esta comprometeu-se a pagar o prémio de risco (em falta) e a resolver os problemas referentes ao pagamento do trabalho extraordinário.
Os trabalhadores decidiram prosseguir as acções de luta, caso não tenham resposta patronal para outras reivindicações, como o aumento do salário e do subsídio de alimentação, e o fim dos vínculos precários.
Quem paga os lucros da EDP?
Enquanto o presidente executivo da EDP exibia, na tarde de 2 de Março, na sede da empresa, os 961 milhões de euros de lucros obtidos no último ano (mais cinco por cento do que em 2015), no exterior foi mostrado «o outro lado dos lucros».
Ali concentraram-se dirigentes e activistas da Fiequimetal e dos sindicatos, apontando aos transeuntes e à comunicação social, num comunicado e em intervenções, factos que são ocultados pelos altos responsáveis da administração e ignorados pela generalidade da comunicação social, e afirmando que os lucros da EDP são pagos pelos trabalhadores, pelos consumidores e pelo País.
A EDP somou mais de seis mil milhões de euros de resultados líquidos, nos últimos cinco anos – lucros alcançados com o esforço dos trabalhadores, com o aumento da tarifa em cerca de 20% e com a generalização dos vínculos precários, designadamente nos centros de atendimento a clientes e nas lojas, na reparação de avarias e nas leituras.
Nos mesmos cinco anos, os accionistas beneficiaram de dividendos num valor superior a três mil milhões de euros; os membros da administração da EDP receberam mais de 50 milhões de euros, e o presidente, António Mexia, poderá arrecadar este ano mais 2,5 milhões de euros. Como presidente do Conselho Geral e de Supervisão, Eduardo Catroga recebe 515 mil euros por ano.
No mesmo período, as actualizações salariais ficaram sempre bastante abaixo dos dois por cento e, nas negociações para 2017, a administração pretendia arrumar o processo negocial impondo uma actualização de 0,7 por cento, valor rejeitado pela Fiequimetal.